Thursday, April 26, 2007

Conclusão sobre "Teologia"

1. O vocábulo “teologia” apareceu antes do que hoje entendemos por Teologia
2. A teologia, enquanto “intellectus fidei”, existiu durante séculos sem se lhe aplicar o temor Teologia.
3. Podemos dizer que o primeiro teólogo é Ireneu de Lião (140-202), porque expõe de modo sistemático uma teologia. É o "pais da ortodoxia cristão", o "pai da dogmática". Outros preferem o alexandrino Orígenes (185-251).

14 notas sobre a aplicação do vocábulo "teologia" à disciplina

1. Teologia – termo grego para designar fenómeno não grego, a consciência bíblica da revelação divina em Jesus.

2. Platão deve ter sido o primeiro a usá-lo. Nele, não significava uma doutrina acerca de Deus, mas os mitos e as histórias dos deuses, criticamente julgados. República, II, 379a.

3. Aristóteles. Teologia = doutrina filosófica de Deus, na linha do que poderíamos entender por reflexão metafísica sobre o ser: Filosofia primeira – metafísica – ontologia. Doutrina acerca de Deus como motor imóvel (Metafísica).

4. Estóicos: parte da filosofia interessada em lançar ponte em direcção ao fenómeno da tradição religiosa; existência pregoeiros (theologein) que lembram do dever do Estado de honrar os deuses.

5. No neoplatonismo o temo é aplicado na área da filosofia (excepto em Plotino).

6. O termo está ausente da Bíblia. Na verdade, podemos dizer que a Teologia nasce quando a fé hebraica se encontra com o logos grego.

7. Os apologistas são os primeiros cristãos a fazerem uso do termo. Teologia tem o sentido de doutrina mítica, oposta à verdadeira filosofia. Até ao séc. IV, o uso do termo para significar a doutrina filosófica de Deus é irrelevante.

8. Em Eusébio de Cesareia (263-339), o termo aparece como sinal da vitória da Igreja sobre o paganismo.

9. Séc. IV e V, a ortodoxia trinitária a cristológica apropria-se do termo para significar a doutrina acerca de Deus, em oposição à “economia” (teologia - teoria; economia - prática e história).

10. No Ocidente, o termo continua a ser aplicado aos poetas míticos. Sentido não cristão. Ex.: Agostinho (354-430): “Pela mesma época [a dos Juízes, na Bíblia], apareceram [em Roma] poetas, também conhecidos por teólogos porque compuseram poemas acerca dos deuses. Mas esse deuses, embora tenham sido grandes homens, mais não eram do que homens, ou elementos deste mundo criado pelo verdadeiro Deus...” (“A cidade de Deus”, Livro XVIII, cap. 14).

11. Mas o mesmo Agostinho já lhe dá outro uso: “Nesta obra não pretendo refutar todas as opiniões de todos os filósofos, mas penas as que se referem à teologia, palavra grega com que queremos significar o pensamento ou palavra acerca da divindade...” (“A cidade de Deus”, Livro VIII, cap. 1).

12. Severino Boécio (480-524) propõe uma apresentação tripla das ciências teoréticas, culminando na teologia filosófica (gramática, retórica e dialéctica – “trivio”; havia também o “quatrivio”: aritmética, geometria, astronomia e música).

13. Em Abelardo (1079-1142) encontramos sinais da passagem do entendimento da teologia como doutrina sobre Deus para uma significação mais precisa de ciência teológica.

14. As designações de “facultas theologica” e de teologia como “scientia” devem-se à Universidade de Paris, no início do séc. XIII. Tomás (menos) e Boaventura (mais) usam os termos.

Bento XVI: A função da Teologia é, antes de tudo, perguntar

Afirmações de Bento XVI, no dia 21 de Março de 2007, ao receber uma delegação da faculdade de Teologia da Universidade de Tubinga (Alemanha), onde foi professor de teologia dogmática de 1966 a 1969:

“Só se propusermos interrogações e se com as nossas perguntas formos radicais, tão radicais como a Teologia tem de ser, muito além de toda a especialização, podemos obter respostas a essas perguntas fundamentais que afectam a todos. Antes de tudo, temos de propor perguntas.”

“Mas, no caso da teologia, além da valentia para apresentar perguntas, requer-se também a humildade para escutar as respostas que nos dá a fé cristã, a humildade para perceber nestas respostas o seu carácter racional e para torná-las desse modo acessíveis ao nosso tempo e a nós mesmos”.

Crítica de Nietzsche aos filósofos (e aos teólogos)


"A religião, dizia Hegel, é a verdade em imagens. O mesmo pode dizer-se da teologia, e muito especialmente numa época como a actual, caracterizada pelo pluralismo cultural e a fragmentariedade da verdade. Um texto de Nietzsche revela-se muito clarificador em relação a isso: “O que é, então, a verdade? Uma hoste ambulante de metáforas, metonímias e antropomorfismos” (“O Livro do Filósofo”). Os filósofos, crê Nietzsche, são “idólatras dos conceitos”, manejam “múmias conceptuais” e enganam-nos acerca do “mundo verdadeiro”. Incorrem com frequência no fideísmo da verdade, que consiste em confundir a verdade com a “sua fé”. Consequentemente, mais do que defender a verdade, o que fazem é impor as suas próprias crenças. O filósofo alemão ridiculariza dizendo que se oferecem em “holocausto pela verdade”, quando na realidade são comediantes de feira (“Crepúsculo dos ídolos”). A concepção nietzscheana da verdade e a sua crítica dos filósofos como idólatras conceptuais é extensível aos teólogos".
Juan José Tamayo, in "Nuevo paradigma teológico", 15

Friday, April 20, 2007

Cuidado com os saberes estéreis


“Que tipo de saber é a teologia? William Temple, antigo arcebispo anglicano [de Cantuária, 1942-44], deu do teólogo uma definição mordaz e sarcástica: é uma pessoa muito sensata e sisuda que passa toda uma vida encerrada entre livros e tentando dar respostas exactíssimas e precisas às perguntas que ninguém coloca. Tal ideia corresponde à do teólogo que, segundo a cena imaginada pelo filósofo dinamarquês Soren Kierkgaard, se apresenta diante do tribunal das acções humanas, no juízo final. Deus pergunta-lhe se se tinha preocupado, antes de mais, com o reino de Deus e em ajudar os seus irmãos. O professor teve que responder negativamente. Mas, de seguida, matizou que sabia como de dizia este versículo da Bíblia em nove idiomas. O anjo da trombeta que estava ao lado de Deus enfureceu-se e gritou ao teólogo: “Historietas!” E deu-lhe uma bofetada que o atirou para longe do tribunal”.
Juan José Tamayo, in Nuevo paradigma teológico, 21

Martinho Lutero


Martinho Lutero, teólogo alemão, pai da reforma protestante, viveu de 1483 a 1546.

O animal inteligente

"Julgas-te muito conhecedor e deixas que os outros te considerem como tal, deleitas-te com os teus próprios livrinhos, teorias, ou escritos, como se tivesses feito uma grande coisa, ou pregado excelentemente.
Também te agrada muito que os outros te façam lisonjas em público, talvez seja esse o teu maior desejo, de contrário ficarias contristado, ou declinarias o elogio. Se é esta a tua maneira de proceder, mais vale deitares as mãos à cabeça. E com proveito! Encontrarás um lindo par de orelhas de burro, grandes, compridas! Aproveita a oportunidade: enfeita-as com guizos dourados, de forma a que toda a gente te possa ouvir onde quer que vás.
Todos apontarão para ti, dizendo: “Olhai, olhai, ali vai o animal inteligente, que escreve livros importantes e que faz lindas pregações”. Então, sim, serás ditoso, serás bem-aventurado no Reino dos Céus. Sim, nessa altura já o fogo do inferno está pronto para o diabo e para os seus anjos. "
Lutero, 1539