Thursday, June 14, 2007

Uma mudança trágica em Agostinho

Em Santo Agostinho opera-se uma mudança que terá consequências trágicas na história da Igreja. Primeiro, considera que não se deve usar a força para obrigar alguém a acreditar. Numa segunda fase, esse uso é legitimado.

Em 392 era assim (Carta 23)
Farei, assim compreender aos meus ouvintes que o meu objectivo não é forçar os homens a abraçarem contra a sua vontade uma comunhão qualquer, mas é dar a conhecer a verdade àqueles que a procuram pacificamente. Assim como do nosso lado cessará o terror das armas temporais, que cesse do vosso o terror da chusma dos circumcelliones [trabalhadores agrícolas que serviam de tropas de choque aos donatistas].
Ocupemo-nos da coisa em si, ajamos com a nossa razão, com a autoridade das divinas Escrituras, peçamos, busquemos, batamos, na paz e na tranquilidade, para que encontremos e a porta nos seja aberta.

Em 417 já é assim (Carta 185)
Existe uma perseguição injusta, a que os ímpios fazer à Igreja de Cristo; e uma perseguição justa, a que as Igrejas de Cristo fazem aos ímpios (...). A Igreja persegue por amor, os ímpios por crueldade (...). Se, em virtude do poder que Deus lhe conferiu, em tempo oportuno, por meio dos reis religiosos e fiéis, a Igreja força a entrar no seu seio aqueles que encontra por caminhos e valados, entre cismas e heresias, que esses não se lamentem de ser forçados, mas pensem para onde são levados. O banquete de Cristo é a unidade do Cristo de Cristo (...).
(Comentário à parábola do banquete, em que “convida-os a entrar” é interpretado como “obriga-os a entrar”).

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